Chamava-se Rosária,a Ti Rosária.
E como era especial a sopa de feijão da Srª Rosária.
Não sei quantas vezes comi eu a sopa da Srª Rosária _não devem ter sido muitas_ mas esta sopa ficou-me no coração; e não foi só a mim porque de vez em quando, eu e as minhas irmãs, a queimar conversa, recordamos como era boa a sopa de feijão da Srª Rosária; deve ser a nossa forma de voltar lá atrás a um tempo cheio de sabores, cores e muitos cheiros.
E porque era tão boa a sopa da Srª Rosária?, recordo especialmente a cor do feijão de tão vermelho, e da batata tão translucida e com um corte perfeito. O feijão e a batata vinham da terra pela mão do seu Manuel, o Ti Manel, ao contrário do feijão da minha sopa que sai diretinho do frasco de vidro.
À cor dos legumes juntava-se o perfume do lume de lenha e a panela de ferro que durante horas envolvia legumes e carne numa dança perfeita.
Quando chegávamos à casa da vizinha, depois de passar o portão de ferro e de enjaulada a cadela feroz, com tantos cheiros e cores era como se já nos tivessemos saciado antes mesmo de saborear a sopa de feijão.
Aos ingredientes e ás sensações mágicas juntava-se a simpatia da Srª Rosária sempre bem disposta mesmo quando as pernas não obedeciam.
Que bem que me soube fazer hoje sopa de feijão.
Foto gentilmente cedida pelo amigo Alex Gandum do O Meu Sofã Amarelo |